Especial Mundial: O Mundial é nosso!

A história do Mundial da FIBA e os brasileiros que participaram!

O ano é 1965. O local: Ginásio do Parque São Jorge, Corinthians, na capital paulista. O jogo: Corinthians x Real Madrid. Foi dessa forma que o Mundial de Clubes da FIBA foi criado. O jogo amistoso (vencido pelo Corinthians de Wlamir Marques, 118 a 109) deixou três dirigentes da FIBA boquiabertos.

O jogo teve uma repercussão enorme, reunindo mais de 10 mil torcedores (há certa controvérsia com o número de torcedores, alguns afirmam que o número de torcedores era muito superior a 10 mil). Após o amistoso, José Cláudio dos Reis (brasileiro), José Pedro Damiani (uruguaio) e Raimundo Sapporta (espanhol) reuniram-se num hotel em São Paulo e criaram o Mundial de Clubes.

48 anos depois daquela reunião em São Paulo, a cena se repetiu de forma semelhante. Durante um almoço na edição 2013 do Jogo das Estrelas do NBB, em Brasília, os dirigentes Kouros Monadjemi (Liga Nacional de Basquete), João Fernando Rossi (Diretor do Esporte Clube Pinheiros) e Alberto Garcia (Secretário-Geral da FIBA-Américas) deram a ideia: retomar o Mundial de Clubes, que seria disputado entre o campeão da Liga das Américas e da Euroliga.

Mais uma vez o Brasil foi palco do Mundial de Clubes. Com o pedido feito à FIBA, a entidade máxima do basquete levou a sugestão, prontamente aceita pela Euroliga. O Mundial está de volta!

Pinheiros Campeão das Américas

 Agora pense em 1966

A Guerra Fria tomava novos contornos com a corrida espacial. O Vietnã vivia mais uma etapa da guerra e o mundo fervilhava… Na música, os sucessos ficavam por conta de Beatles, Stones, The Who, The Doors, Bob Dylan, Frank Sinatra e da nossa Jovem Guarda.

O rádio vivia sua última época de ouro. No cinema, O Homem Que Não Vendeu Sua Alma venceu o Oscar. No mundo dos carros, Jack Brabham foi o primeiro campeão da Fórmula 1 construindo o próprio carro e Bruce McLaren, que deu origem a uma das mais famosas equipes do automobilismo, foi campeão das 24h de Le Mans com o Ford GT 40, o melhor carro esportivo do mundo, desbancando a mítica Ferrari.

No boxe, o domínio era de Muhammad Ali. 1966 também foi ano de Copa do Mundo. Na Inglaterra, os donos da casa ficaram com o título, enquanto o Brasil de Pelé tinha seu pior desempenho da história. O ano ainda proporcionou o esboço daquele que é o maior evento esportivo anual dos Estados Unidos: o Super Bowl, reunindo os campeões das duas principais ligas de futebol americano, AFL e NFL. No tênis, Maria Esther Bueno era tricampeã do US. National Championship, atualmente US Open.

Finalmente chegamos ao basquete. O Boston Celtics, de Bill Russell, venceu a NBA mais uma vez e Wilt Chamberlain foi o MVP da temporada. Foi também em 1966 que o Mundial de Clubes da FIBA começou a ser disputado e um time brasileiro estava lá: o Corinthians, protagonista do amistoso de 1965.

O primeiro Mundial aconteceu Madrid e contou com a presença de 4 times. Representando a Europa, o campeão e dono da casa Real Madrid (que perdeu o célebre amistoso) e a equipe italiana do Ignis Varese. O Corinthians era o Campeão das Américas e o Chicago Jamaco Saints era o representante da NABL, uma liga menor dos Estados Unidos. O torneio foi disputado em formato de semifinais.

O basquete brasileiro vivia numa época dourada. Na década de 1960 veio o bicampeonato mundial (1963). Nas Olimpíadas, dois bronzes: 1960 e 1964. Ainda colhendo os frutos de uma das maiores gerações do basquete brasileiro, o Corinthians chegou ao Mundial de Clubes com um time que era formado exatamente pela base da seleção.

E munido de craques como Wlamir Marques, Rosa Branca e Ubiratan, o timão passou pelo Jamaco Saints por 69 a 62, classificando-se para a grande final. Mas no jogo decisivo, no Pabellón de la Ciudad Deportiva, o time italiano do Ignis Varese foi melhor, tornando-se o primeiro Campeão do Mundo. O cestinha foi o pivô Giovanni Gavagnin, com 20 pontos. No lado corinthiano, Peninha deixou 14 pontos no placar.

O Real Madrid, que contava com Moncho Monsalve no plantel, ficou em terceiro. A equipe americana ficou com a última colocação. Estava lançado oficialmente o Mundial de Clubes da FIBA.

Em 1967, o Corinthians voltou ao Mundial, mas ficou na quarta colocação. O campeão foi o Akron Wingfoots, dos Estados Unidos. Em 1968 o Akron foi bicampeão e o representante brasileiro foi o time do Botafogo, de Emil Rached, que também ficou em quarto. Já em 1969 vimos a primeira aparição do Sírio no torneio. Contando com Sucar, Mosquito e Fritz, o time ficou com o bronze.

Entre Francana, Vila Nova e Sírio

Em 1970, o Mundial passou a ser disputado em formato de liga. As 5 equipes envolvidas jogavam entre si em turno único para definir o campeão. O Ignis Varese ficou com o título outra vez e o Corinthians, de Wlamir e Amaury ficou em terceiro.

Depois de uma pausa de três anos, o Mundial chegou de maneira oficial ao Brasil em 1973. O Ginásio do Ibirapuera recebeu as partidas e o Brasil foi vice-campeão com mais uma aparição do Sírio. Em 1974 o Vila Nova de Goiás ficou com o bronze.  Em 1975, o Franca, ainda com nome de A.A. Francana, fez sua estreia no torneio, ficando com o vice. Em 1976 o time francano ficou em quarto, fato repetido no ano seguinte. Em 1978, o Sírio de Cláudio Mortari alcançou mais um bronze, anunciando o time que seria, até hoje, o primeiro e único brasileiro Campeão Mundial no ano seguinte.

 1980, do topo ao declínio

Nos anos 1980, o Mundial aumentou o número de participantes e passou a ser jogado por até 12 times. E o Brasil, ainda dominante no cenário Sul-Americano, sempre disputou o torneio. As frequentes aparições de Sírio, Monte Líbano, Corinthians, Franca mostravam nossos nomes. Marcel, Israel, Pipoka, Cadum, Oscar, Guerrinha, Paulinho Villas Boas, Carioquinha…

A década de 1980 marcou a época de ouro e o declínio do Mundial. Em 1987 houve dois Mundiais, o da FIBA e a primeira edição da McDonald’s Cup, esta com a presença dos times da NBA. A única aparição de um time brasileiro no torneio envolvendo a elite do basquete norte-americano foi em 1999, quando o Vasco foi o vice-campeão após perder do San Antonio Spurs, do jovem Tim Duncan. O clube carioca tinha Demétrius, Sandro Varejão, Rogério Klafke, Helinho entre outros craques.

Vasco x San Antonio Spurs, 1999

Depois de um hiato de 9 anos, o último campeonato da FIBA foi disputado num já longínquo ano de 1996, quando o grego Panathinaikos foi coroado o maior do mundo. Até hoje, o maior campeão é o Real Madrid, com 4 conquistas, repetindo o sucesso do futebol nas quadras. Agora, 17 anos depois, o Mundial está de volta. A Grécia está no Mundial, dessa vez com o Olympiacos, e a tradição brasileira está com o Pinheiros.

Panathinaikos campeão em 1996

E não haveria local melhor para a volta do Mundial. Para o Brasil, para São Paulo, onde o Mundial nasceu de uma épica partida entre Corinthians e Real Madrid, terra do Sírio, o brasileiro que dominou o Mundo. Mas onde está a história épica do Sírio e sua brilhante conquista de 1979? Esse é o assunto do próximo post.

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